... na primeira sms ela dizia: "olá como estás? Parecias-me triste à pouco.", na outra mensagem ela escreveu: "se precisares de falar, podes contar comigo."
Devo dizer que aquelas mensagens deixaram-me um pouco surpreendido. Não estava nada à espera... A tristeza daquela noite, ganhou uma outra cor!
Afastei-me da janela. Sentei-me no sofá azul escuro, de uma espécie, de veludo e olhei em frente para o móvel da televisão. O meu pensamento estava à muito a trabalhar sobre o que se estaria a passar comigo e com os meus sentimentos e convicções. Nesse mesmo móvel estava um crucifixo que todos os dias olhos com devoção. Levantei-me, acendi-lhe uma pequenina vela e no silêncio da noite iluminado pela pequena vela, deixei que a minha mente se interrogasse sobre o que eu sentia pela Margarida e observava o rosto do Cristo crucificado iluminado pela luz da vela..
O aparecimento da Margarida na minha vida, seria uma forma que Ele teria encontrado para me dizer que não deveria encaminhar o meu futuro pela vida religiosa, ou pelo contrário ele colocou a Margarida no meu caminho para me por à prova?
De olhos posto no rosto sofredor de Cristo crucificado, passei algumas horas mais da noite, interrogando-O e interrogando-me... Rezei. Pedi a Sua ajuda nas minhas dúvidas e inquietações... adormeci ...
Quando acordei já era dia. Assim que abri os olhos a primeira imagem que fixei com clareza foi uma vez mais o rosto do sofrimento do Cristo crucificado... Não sei o que senti, e ainda não sei explicar a razão, mas nesse mesmo instante os meus olhos encheram-se de água e não as consegui segurar... chorei. Olhei-O nos olhos dobrei os joelhos e continuei, cabisbaixo, a chorar...
...no final do dia, ainda andava lunático com a mensagem que a Margarida me tinha enviado.
Estava tentado a enviar-lhe uma sms , quase que numa desesperada tentativa de me aproximar um pouco mais dela...
Entre tanto, surgiu-me a ideia de voltar ao café ao fim do jantar. E assim fiz...
Já a noite tinha caído sobre a praia. O mar ouvia-se bem perto. Parecia que as ondas estavam a morrer junto dos meus pés, que um pouco trémulos, com um pouco de frio misturado com nervosismo e ansiedade , quase não sentiam as pedras da calçada. Estava já perto do café quando, olhei para dentro e verifiquei que aquela noite tina deixado o pequeno café cheio. Espreitei discretamente pela janela e verifiquei que a "minha" Margarida não estava lá. Não entrei. Peguei no telemóvel e caminhei até ao muro da praia e lá sentei-me.
Uma pequena brisa percorria toda a praia no sentido norte/sul... Fiquei triste pela sua ausência; na quela noite não iria, com toda a certeza, ver a Margarida. Numa noite sentida pelo frio e pela tristeza; sentado virado para o mar abri o telemóvel para enviar uma sms , estava convicto de o fazer. Nesse preciso momento ouço passos que se aproximavam. Olhei para trás. Olhei de uma forma tal que parecia que alguém me chamava. À distância vi um casal. Bem agarrados, ou pelo amor ou pelo frio, a verdade é que ao caminharem, eté se trepeçavam um no outro tál era a proximidade de ambos.
Quando chegaram bem perto de mim, vi que era a "minha" Margarida! Os meus olhos tocaram nos dela, baixei a cabeça, ela baixou o olhar... Engoli em seco... voltei a engolir, era seco, não havia nada para descer a garganta, e nada passava... viei-me para norte, para sentir o vento bater-me no rosto como que assim podessem, voltar ao normal... Eles entraram no café. Eu consegui que as minhas glandolas produzissem saliva; consegui engolir...
Levantei-me. Pus os pés no chão e comecei a caminhar em direcção a casa. Estava complectamente inundado pelo escuro da noite. A minha cabeça estava um caos que tantos pensamentos em tão pouco tempo... Já estava bem perto de casa quando um arrepio profundo percorreu todo o meu corpo. Parei. Olhei em toda a volta. Não vi nada nem ninguém; apenas o escuro da noite...
Entrei em casa. Sozinho. Triste. Amargurado. Olhava pela janela e via um sinal luminoso em alto mar. Talvéz um pesqueiro a sár para o mar, pensei... era uma forma de me abstrair da trsiteza que me envolvia. Fiquei ali a olhar pela janela, talvéz, horas. Ouvi o telemóvel vibrar sobre a mesa. Não estava com grande vontade de falar com ninguém. Lá fora a chuva era forte... Tinha passado cerca de meia hora desde a primeira vez e o telemóvel , voltou a vibrar. Pensei que era melhor ver o que se passava. Poderia ser alguém a que faço acompanhamento espiritual...
Peguei-o; abri-o e vi que tinha duas mensagens... Era a Margarida...
...os dias iam passando, e nem sinal da Margarida. O telemóvel não tocava, nem me recebia uma sms ; o correio electrónico no meu pc, não entregava nada do que eu estava à espera.
Sentia uma grande ânciedade dentro de mim. Pensei em voltar ao café, quanto mais não fosse, para espreitá-la pela janela. Voltar a ver aquelo lindo rosto, a expressar um fantástico sorriso, complementado pelo mais belo dos olhares...
Tive medo, muito medo de lá voltar...medo talvez não seja a palavra mais certa, mas a minha timidez, que é bastante, cortavam os impulsos que tinha, até que... Ganhei coragem. Comprei um jornal diário; dirigi-me ao café; voltei a ocupar a mesma mesa. Tremia e tál forma que quase não conseguia segurar de forma legivel o jornal. Se naquele instante me perguntassem o que estava a ler, eu não ia perceber que tinha um jornal na mão. Baixei o jornal por um instante e naquele momento, a Margarida estava a chegar ao pé de mim. Já não sei dizer se dobrei o jornal, se o mantive como o tinha ou se até teria colocado sobre a mesa; a verdade é que não sei mesmo, tál foi o sentimento que me inundou...
Pedi-lhe um café, enquanto lhe fixei o olhar, no mesmo momento ela voltou-se e dirigiu-se ao interior do café. Eu continuava a tremer, mas sentia uma alegria interior que jamais encontrarei palavras para descrever. Enquanto ela tirava o café, eu ia observando o seu cabelo negro, escalado que lhe caia sobre os ombros... cada vez que lhe direccionava o meu olhar, mais eu descobria beleza naquela jovem.
Voltou até junto de mim. Pousou a chavena sobre a mesa. Eu agradeci. Ela, deixou saír um pequenino sorriso. Eu fiquei feliz...
Já satisfeito por a ter visto, tirei um moeda do bolso, dobrei o jornal e saí... Quase não tinha acabado de saír e o meu telemóvel tocava sinal de mensagem. Abri-o, li amensagem e dizia: " hoje não veio o poeta? Não deixou ficar um poema... Margarida." O meu coração quase parou. Senti-me corar de felicidade; os meus pés sairam do chão e por instantes perdi noção do tempo e do espaço Voltei o meu lhar para trás, alcançando a janela e numa imagem pouco nítida, Margarida acenava-me um adeus. Eu muito timidamente, respondi-lhe ao aceno, sorri...
Senti-me por momentos um miudo de 15 anos... ignorei... Simplesmente, porque me sentia...muito feliz.
... acabei por me decidir e deixar o papel que tinha acabado de escrever sobre a mesa.
Do bolso tirei uma moeda de cinquenta cêntimos , pousei-a sobre o papel, como uma espécie de pisa papeis. Levantei-me e saí.
Já do lado de fora, olhei pela pequena janela e consegui, ver que Margarida, olhava o papel com um certo ar de incompreensão. Nesse preciso instante, tive medo e um sentimento de arrependimento, atormentava-me... Para além do pobre poema, tinha deixado escrito o meu número de telemóvel e endereço de e-mail... "Que vergonha! Acho que não vou cá voltar!"... pensei.
Coloquei-me a caminho, de forma a voltar a encontrar o meu pensamento e a volta-lo para a minha vida!
É que tudo isto começa, bem lá atrás, quando sentado na praia, procurava encontrar respostas, para a Felicidade, para o Amor, para a Vida e para o meu Futuro. Bem antes de ter chegado a esta praia, já tinha decidido, tornar-me missionário, e se tiver capacidade, quero sê-lo como padre... A minha passagem por esta praia, era no fundo, uma forma de deixar para trás todo o meu passado, lavar a alma , e sentir-me invadido pelo Espírito Santo...
Agora, que me sinto de alma lavada e interior limpo, sei o que quero e desejo. sei que a minha vida vai passar pelas missões, seja de que maneira for... Quanto à Margarida... é uma Bonita Flor que apareceu na minha praia, que tudo farei para que não murche, sem seja arrancada destas dunas...
O sol começava a cair, por detrás das pequenas ondas que chegavam, suavemente à areia húmida da praia. O Céu estava ainda azul, mas já inundado de um vermelho forte e lindo, que aumentava a sua beleza à medida que o sol descia sobre o oceano. que lindo é o pôr do sol, visto daqui, daocidentalpraialusitana ...
... senti um grande preenchimento interior, enquanto olhava para o seu sorriso, enfeitado e florido com doçura do seu olhar negro e profundo...
Nesse mesmo instante em que o meu pensamento me tinha feito parar, por completo, na imagem da Margarida, tive uma imenso desejo de ser, talvez, poeta. Poeta a sério, um poeta capaz de declamar em verso e em rima, o que as imagens dos nossos olhos fazem chegar ao coração... Gostava de poder dizer qualquer coisa do tipo:
Fosse eu um poeta e soubesse falar,
Pegaria num papel e o coração
Deixava eu expressar
O que a minha alma não consegue calar
Fosse eu um poeta e soubesse dizer
O que os meus olho vêem;
Não posso nem consigo esquecer
A doçura que os teus olhos têem.
Pegaria então a escrever a tu beleza,
Do teu rosto e do teu interior...
O teu sorriso acaba com toda a tristeza,
Que possa existir em todo o exterior...
Agradeço a tua existência
A que te viu nascer
Teve a coragem de ao mundo te trazer.
Flor é o teu nome e a tua permanência...
...assim que que o meu pensamento me libertou, daquele tipo de transe, peguei no meu caderno e no lapis pouco afiado e com uma letra grutesca, passei tudo para o papel.
No fim, soltei a folha do caderno e pensei em deixa-la sobre a mesa... tive muito medo e hesitei. Devo dobrar o papel e sair com ele no bolso, ou espalma-lo e deixa-lo em cima da mesa para que ela o possa ler?...
... voltei a mim. Levantei-me e voltei à rua. Não basta sentir-me "pequenino", é preciso arregaçar as mangas e fazer alguma coisa, por mais insignificante que possa parecer.
Caminhei cerca de uma centena de metros, e na passadeira que me surgiu, passei para o lado de lá da rua. Debaixo de um prédio havia um pequeno café. Entrei. Era realmente pequeno mas muito acolhedor. Como sou um pouco tímido e não gosto de me sentir observado, fiquei logo na primeira mesa que me apareceu. A mesa de madeira em consonância com o pequeno café de decoração rústica , ficava escondida por de trás da porta. Bem ao meu gosto.
Pouco depois uma bela jovem veio ao meu encontro. A sua beleza era tal que por si só, deixou-me completamente vazio de pensamentos e de sentidos. Pele clara e corada - talvez pela minha expressão - cabelo negro pelos ombros e olhos redondos e escuros, deixavam transparecer um doce olhar de menina. Chamava-se Margarida, pelo que entendi pelo seu crachá, branco com letras em azul escuro. Perante tanta beleza, quase não consegui dizer que queria um café.
Não consigo dizer se ela, realmente, entendeu o quanto fiquei boquiaberto com sua beleza exterior. Quase como que envergonhado pela minha reacção, tremi ao abrir a saqueta do açúcar e ao coloca-lo na chávena , ainda deixei que algum do pouco açúcar , caísse para fora...
Mais ao fundo da sala dois casais com idades compreendidas entre os quarenta e muitos e os cinquenta, argumentavam e contra-argumentavam sobre o referendo ao aborto. Quando os casais solicitaram à Margarida a sua opinião sobre o mesmo ela respondeu: - A minha mãe, tinha 16 anos quando ficou grávida de mim. Toda a família a pressionou para que ela abortasse, ela contra todos, rejeitou fazê-lo. Hoje aqui estou eu, orgulhosa da mãe que tenho e feliz pela vida que Deus me deu...
Enquanto a ouvia falar, observava-a, fui formando um pequeno pensamento: Meu Deus, como é que possível haver tanta beleza junta num só ser Humano...
. Da Ocidental praia Lusita...
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